sexta-feira, 28 de setembro de 2018

XXXV

Olhamo-nos de viés. Entre nós as lágrimas guardadas, as mágoas escondidas, a vida aos pedaços. E o adeus. Olhos presos numa corrente de elos infinitos, adivinhando a falta que se esconderia em cada elo que nos restasse. Ele se virou. Rompeu-se a corrente. Silenciosamente fechou a porta e o fim desenhou-se à minha frente. Abracei-me. Garganta fechada, estômago contraído. Olhei em volta do quarto, escutando a mudez do armário, das gavetas, dos travesseiros. Iniciei uma dança lenta, meio louca, meio perdida. E um riso baixo. Depois rodopiei. Gargalhei. Mais alto. Mais rápido. Mais alto. Mais rápido. Até que nada mais havia além do eco daquele estranhamento. E o corpo caído sobre a cama. E o choro seco. E o silêncio no corpo. Até renascer com a manhã. A vida continuaria[p1] 

Paulo  Bentancur: Brilhante. Bom demais. Jogo do paradoxo. Inusitado. Gostei muito!

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...