Éramos amigas. Ela, negra,
pobre, linda. Eu, uma rebelde cheia de causas. Ela queria ser doutora e mudar
sua história. Eu queria ser guerrilheira e mudar a história do país. Sem uma
vaga na faculdade pública, ela pagava seu curso com a beleza e a
disponibilidade sexual. Cada saída era um abuso. Cada abuso era lágrimas
escondidas. Aguentava, queria ser doutora. Eu não concordava, mas não tinha
tempo para convencê-la. Tinha minhas batalhas a vencer. Um dia foi levada para
fazer aborto. Ela era negra, pobre, grávida. Nunca mais a vi.
Lourença Lou