Equilibrando sobre os
saltos maldisse minha vaidade. Era a primeira vez que usava o metrô e só não
quebrava as pernas porque aquele mundo de gente me impedia até de respirar. Senti
algo me incomodando nas costas. Pulsando. Tentei virar. Não conseguia sequer me
mexer. Uma raiva foi me subindo. Lembrei-me de uma amiga. Ela sempre me dissera
que nunca entrasse num metrô sem um alfinete em mãos. Não tinha alfinete,
obviamente. Os saltos. Sim, duas armas! Tentei olhar para os pés. Duas armas
inacessíveis. Não havia nenhuma chance de pegar os sapatos. De repente o trem
parou. Sem escolha fui empurrada para a porta. Agarrei-me ao primeiro que
consegui para não ser jogada para fora. – Não adianta me agarrar, moça. Vou
descer aqui. Mas adorei o seu perfume. – Engasguei. Tossi. Quase vomitei.
Tranquilamente a voz irônica desceu. Paralisada, o vi piscar
desavergonhadamente. Se raiva matasse, eu morreria engasgada.
Lourença Lou
Paulo Bentancur A situação, seja qual for, comum
ou odiosa, entra no elemento da temática. Ora, o que importa é a arte que a
escritora sua sangue perseguindo. Para chegar à tal alto grau de literariedade,
precisa atingir os mais preciosos conteúdos da linguagem narrativa. É o que Lourença Lou consegue! E só por isso seu texto
nos "ganha", nos seduz como leitores para acompanhá-lo com interesse.
A atmosfera da situação, sua intensidade e/ou força, sua sugestão pelo modo
específico com que a escritora constrói seu miniconto/crônica, isto é que faz
da literatura grande ou discutível arte verbal. O nome dado a isto (já me
repito) é ESTILO. E Lourença Lou tem estilo, isto é, TEM TUDO!
Beijos, querida talentosa.
Que
que eu posso dizer de diferente no plano crítico? Diferente o texto é, já que
cada texto tem a sua particularidade, a sua trama ou reflexão. Mas acontece que
a série COISAS DE LOU é tão homogênea na forma (estrutura do texto, ritmo,
linguagem) e até a multiplicidade de temas sustenta o homogêneo porque a
temática alimenta a conficção e com isso o projeto não perde o equilíbrio, o
estilo, a consistência JAMAIS! O que muda, às vezes, é que um texto dói em nós
e outro vem carregado de um humor que nos desafia É o caso deste. SEMPRE BOM,
Lou, não erras a pontaria nunca. Beijos de admiração.