sexta-feira, 28 de setembro de 2018

XLIV


A barriga da mãe crescia e ela sumia cada vez mais da nossa vida. Seu quarto vivia na penumbra. Vez ou outra, vinha um médico. Quase sempre, enfermeiras. A casa cheirava a remédio e tristeza. Um dia ela se foi. Veio a tia e abriu todas as janelas. Pôs flores nos vasos, coloriu as camas e a casa ganhou cheiro de alfazema. Nada disso mudou nossa vida. Continuava doendo nos quatro, a falta que a mãe fazia. A tia estava mais preocupada com os homens que passavam pela janela. Fomos ficando solitários. E rebeldes. A tia foi ficando cada vez mais amarga. E impaciente. Um dia ela ficou histérica. Gritou, xingou e terminou prendendo as mãos da caçula nos pés da mesa. Nós nos encolhemos em volta dela. Ficamos ali chorando baixinho. Ficamos ali até a chegada do pai. Nunca mais a vimos. Virei a mãe da família. E ainda nem tinha seios na magreza dos meus sete anos. Mas sabia inventar histórias de um mundo que não conhecia.

Lourença Lou

Paulo Bentancur Agora entendo a tua poesia, Lourença Lou, a multiplicidade do teu projeto poético, as centenas de poemas excepcionais (todos filhos também), e mais os três filhos reais que tens! E tua energia, e tua disposição para a luta diariamente! E tua amizade comigo, irreparável, há 3 anos... Tu és mais que uma grande artista, uma grande mulher, muito mais! TU ÉS UMA MÃE! E eu te felicito pelo dia de hoje, queridona... Beijos, beijos, beijos.

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...