A
barriga da mãe crescia e ela sumia cada vez mais da nossa vida. Seu quarto
vivia na penumbra. Vez ou outra, vinha um médico. Quase sempre, enfermeiras. A
casa cheirava a remédio e tristeza. Um dia ela se foi. Veio a tia e abriu todas
as janelas. Pôs flores nos vasos, coloriu as camas e a casa ganhou cheiro de
alfazema. Nada disso mudou nossa vida. Continuava doendo nos quatro, a falta que
a mãe fazia. A tia estava mais preocupada com os homens que passavam pela
janela. Fomos ficando solitários. E rebeldes. A tia foi ficando cada vez mais
amarga. E impaciente. Um dia ela ficou histérica. Gritou, xingou e terminou
prendendo as mãos da caçula nos pés da mesa. Nós nos encolhemos em volta dela.
Ficamos ali chorando baixinho. Ficamos ali até a chegada do pai. Nunca mais a vimos.
Virei a mãe da família. E ainda nem tinha seios na magreza dos meus sete anos.
Mas sabia inventar histórias de um mundo que não conhecia.
Lourença Lou
Paulo
Bentancur Agora entendo a tua
poesia, Lourença Lou,
a multiplicidade do teu projeto poético, as centenas de poemas excepcionais
(todos filhos também), e mais os três filhos reais que tens! E tua energia, e
tua disposição para a luta diariamente! E tua amizade comigo, irreparável, há 3
anos... Tu és mais que uma grande artista, uma grande mulher, muito mais! TU ÉS
UMA MÃE! E eu te felicito pelo dia de hoje, queridona... Beijos, beijos,
beijos.