Ricardo, nosso porteiro, chegou quase sem fôlego à porta da
minha sala. – A senhora precisa ir correndo lá no portão. Eles estão pisando no
pescoço do menino. Não sei o que pensei. Corri sobre meus saltos altos – não
era hora de imaginar o ridículo da situação. Um verdadeiro tumulto me esperava
na porta da escola. Um grupo de alunos mostrava a diferença de serem nossos
alunos: questionavam o abuso de autoridade do PM que literalmente prendia no
chão o corpo de um pretenso ladrão. De novo, não pensei. A situação era tão
gritante que só me lembro de exigir que ele tirasse a enorme bota daquele
pescoço que parecia ser ainda infantil. Ele me olhou como se eu não soubesse o
que estava dizendo. Usei de toda autoridade que pudesse ser expressada em gestos
e atitudes. Ele tirou o pé e levantou o garoto. Pedi aos alunos que entrassem e
escutei o policial. Depois de saber o que estava acontecendo, me vi entre a piedade e a indignação. – Como você se chama? A mão do policial o impedia de
responder. Antes que pedisse, ele afrouxou a gravata. Foi o suficiente. Como se
fosse um réptil, o danado escorregou pra fora do abraço. Acompanhei a corrida
dos dois já imaginando o que iria acontecer. Entrei antes que eles chegassem à
esquina. Não tinha estômago pra ser repressora. Escolhi ser educadora.
Lourença Lou