sexta-feira, 28 de setembro de 2018

XLIII


Ricardo, nosso porteiro, chegou quase sem fôlego à porta da minha sala. – A senhora precisa ir correndo lá no portão. Eles estão pisando no pescoço do menino. Não sei o que pensei. Corri sobre meus saltos altos – não era hora de imaginar o ridículo da situação. Um verdadeiro tumulto me esperava na porta da escola. Um grupo de alunos mostrava a diferença de serem nossos alunos: questionavam o abuso de autoridade do PM que literalmente prendia no chão o corpo de um pretenso ladrão. De novo, não pensei. A situação era tão gritante que só me lembro de exigir que ele tirasse a enorme bota daquele pescoço que parecia ser ainda infantil. Ele me olhou como se eu não soubesse o que estava dizendo. Usei de toda autoridade que pudesse ser expressada em gestos e atitudes. Ele tirou o pé e levantou o garoto. Pedi aos alunos que entrassem e escutei o policial. Depois de saber o que estava acontecendo, me vi entre a piedade e a indignação. – Como você se chama? A mão do policial o impedia de responder. Antes que pedisse, ele afrouxou a gravata. Foi o suficiente. Como se fosse um réptil, o danado escorregou pra fora do abraço. Acompanhei a corrida dos dois já imaginando o que iria acontecer. Entrei antes que eles chegassem à esquina. Não tinha estômago pra ser repressora. Escolhi ser educadora.

Lourença Lou

Paulo Bentancur:Excelente com forte conteúdo político e social sem cair em momento algum no panfleto. Na medida.

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...