sábado, 29 de setembro de 2018

LVIII


Val gostava de vinho. Às vezes, até demais. Ela e Júnior tinham o hábito de tomar vinho às sextas, escutando uma boa música. Vez em quando convidavam amigos. Quase sempre eram os dois. E quase sempre o marido a levava para a cama. No dia seguinte, além da dor de cabeça só existiam névoas. Nos últimos tempos acordava com dores no corpo. Disse ao marido. - Deve ter dormido de mau jeito. - ele respondeu tranquilo. Os sábados passaram a ser doloridos. Todos eles. Ela começou a achar muito estranho. Já se acostumara a acordar com sêmen seco nos seios ou entre as pernas. Achava meio nojento, mas era próprio de homem essa coisa de não se segurar. Acordar com dor era diferente. Em um sábado, acordou também com uma dor terrível no ânus. Num clique, a verdade saltou. Seu marido a estava estuprando nas noites de sexta. Sexo não consensual era estupro - ela vivia dizendo às mulheres a quem atendia em seu consultório. Foi como um soco no estômago. Imediatamente tudo que sentia virou raiva. Quando ele chegou do futebol, comunicou: 
- Pegue suas malas e suma! 
Ele a olhou sem nada entender. Tentou beijá-la como sempre. Ela se esquivou. Em poucas palavras, disse a ele sobre suas descobertas e repetiu a decisão. Ele tentou discutir, justificar. 
- Ou você sai ou saio direto para a delegacia. 
Júnior estava embasbacado. Não entendia a radicalidade da mulher. Não fizera nada além do que faria qualquer marido. Val estava irredutível: 
- Até podemos conversar, mas não hoje, não agora. Estou me segurando para não te denunciar. Não quero te encontrar quando voltar. 
Pegou as chaves do carro e deu-lhe as costas.   

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...