Estava apaixonada por um disc-jockey da
Rádio Tiradentes e achava que ele também estava por mim. Era alto,
loiro e lindo. Fazia um programa jovem, para gente jovem. Todos os dias eu
escrevia um texto que concorreria à escolha dele. E assim começou minha mania
de me achar cronista. Amava escrever sobre coisas da adolescência, sobre livros,
sobre rock’n roll e sobre minhas monumentais paixonites. Tudo recheado da minha
indignação pelo regime que havia me tirado o pai. E ia pra porta da rádio, me
juntar a um bando de outras adolescentes, para vê-lo chegar. Depois do habitual
histerismo, ficávamos ali até ele entrar no ar e anunciar a crônica escolhida.
Quase sempre era a minha e ele lia naquela voz que revolucionava profundamente os meus hormônios. Elas saíam
emburradas. Eu, cada vez mais sozinha. Não sabia lidar com meninas. Meninos
eram meu desafio.