sábado, 29 de setembro de 2018

LVII


Estava apaixonada por um disc-jockey da Rádio Tiradentes e achava que ele também estava por mim. Era alto, loiro e lindo. Fazia um programa jovem, para gente jovem. Todos os dias eu escrevia um texto que concorreria à escolha dele. E assim começou minha mania de me achar cronista. Amava escrever sobre coisas da adolescência, sobre livros, sobre rock’n roll e sobre minhas monumentais paixonites. Tudo recheado da minha indignação pelo regime que havia me tirado o pai. E ia pra porta da rádio, me juntar a um bando de outras adolescentes, para vê-lo chegar. Depois do habitual histerismo, ficávamos ali até ele entrar no ar e anunciar a crônica escolhida. Quase sempre era a minha e ele lia naquela voz que revolucionava  profundamente os meus hormônios. Elas saíam emburradas. Eu, cada vez mais sozinha. Não sabia lidar com meninas. Meninos eram meu desafio.

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...