Era uma festa barulhenta, cheia de gente bonita e mil
perfumes dançando no ar. Eu, enfastiada. De cheiros e de indolências. Estava em
TPM emocional. No dia seguinte jorraria meu sangue na busca de uma assinatura.
Selaria o destino do meu futuro profissional.Ele chegou desajeitado. Quase
pedindo desculpas por existir. Olhei-o sem vontade. Descartei-o sem perdão.
E continuei ausente de tudo e de todos. Insistente, ele se fez presença. Com
voz gaguejante fez uma pergunta. Não ouvi. Não quis. Mesmo sem querer, senti sua solidão.
Olhei de novo. Sua palidez me atingiu. Algo em mim se constrangeu. Cedi. Descobri,
ele era viúvo. Carregava o fardo de um passado interrompido. Era um ex-amante
que acreditara na eternidade. E agora estava buscando na sorte a sua
atualização.
Olhei-o com vontade de gritar. Depois de um longo treinamento para amordaçar as
emoções, estava eu ali quase oferecendo colo a um desconhecido. Saí sem me
despedir. E nunca mais o esqueci.
Lourença Lou
Paulo Bentancur:Extremamente
bem escrito. Genial!
Lembra a psicologia de Proust. Não sabemos que ela tentou algo com ele, teve
algo com ele ou não teve nada e desistiu antes de voltar atrás. O certo é que o
poder de sugestão é fortíssimo. E esse “E nunca mais o esqueci” é fortíssimo. PROJETO EXCELENTE E A LINGUAGEM ESTÁ EXUBERANTE. Obra-prima.