sábado, 29 de setembro de 2018

LIX

Era uma festa barulhenta, cheia de gente bonita e mil perfumes dançando no ar. Eu, enfastiada. De cheiros e de indolências. Estava em TPM emocional. No dia seguinte jorraria meu sangue na busca de uma assinatura. Selaria o destino do meu futuro profissional.Ele chegou desajeitado. Quase pedindo desculpas por existir. Olhei-o sem vontade. Descartei-o sem perdão.  E continuei ausente de tudo e de todos. Insistente, ele se fez presença. Com voz gaguejante fez uma pergunta. Não ouvi. Não quis. Mesmo sem querer, senti sua solidão.  Olhei de novo. Sua palidez me atingiu. Algo em mim se constrangeu. Cedi. Descobri, ele era viúvo. Carregava o fardo de um passado interrompido. Era um ex-amante que acreditara na eternidade. E agora estava buscando na sorte a sua atualização.  Olhei-o com vontade de gritar. Depois de um longo treinamento para amordaçar as emoções, estava eu ali quase oferecendo colo a um desconhecido. Saí sem me despedir. E nunca mais o esqueci. 


Lourença Lou









 Paulo Bentancur:Extremamente bem escrito. Genial! Lembra a psicologia de Proust. Não sabemos que ela tentou algo com ele, teve algo com ele ou não teve nada e desistiu antes de voltar atrás. O certo é que o poder de sugestão é fortíssimo. E esse “E nunca mais o esqueci” é fortíssimo.  PROJETO EXCELENTE E A LINGUAGEM ESTÁ EXUBERANTE. Obra-prima.

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...