Trancoso foi escolha
da maioria. Vínhamos de Airuoca, sul de Minas, onde congelamos por algum tempo.
Sonhávamos com o mar e o clima quente do nordeste. Há muito queríamos conhecer
mais este paraíso perdido. Juntamos as tralhas e fomos para a estrada. Enfrentamos
um sem-número de dificuldades: caronas em caminhões, balsas, canoas, longas e
penosas caminhadas a pé. Mas tínhamos em média 16 anos, sandálias de couro, flores
nos cabelos, estrelas nos olhos e nosso lema era paz e amor. Não chegamos em Trancoso.
Zé Roberto, um dos dois meninos do grupo, envolveu-se numa discussão para
defender uma das meninas. O caminhoneiro que nos deu carona confundiu amor
livre com estupro. Zé Roberto não era um lutador. Nós não sabíamos o que fazer
ao ver sua cabeça sangrar. Corremos para rodeá-lo. Os olhos dele estavam abertos,
mas ele já não nos via.
Lourença Lou