Foi numa fila do mercado. Minha vaidade, depois das várias
cicatrizes deixadas pelo acidente, me atormentava, enquanto eu fingia ignorá-la. Atrapalhada como sempre,
quase caí sobre um homem. Tentei algumas desculpas, mas ele sequer me olhou.
Olhou meus pés como se fossem únicos no mundo.
E sutilmente os elogiou. Olhei-o surpresa. E surpresa, me deixei ser
envolvida. Eu não só precisava como merecia ser paparicada – meu id me
garantia. Papo vai, papo vem, descobri nas entrelinhas seu amor por pés.
Viramos amigos. Depois, amigos bem íntimos. Foi um tempo em que me diverti
inventando desejos quase impossíveis. E descobri o poder dos meus pés.
Lourença Lou