Flertávamos. Se não era abertamente, também não era de
todo escondido. Não fazíamos por mal. Ninguém faz. Era a luta irreverente dos
hormônios de adultos, supostamente resolvidos, que voltavam com a força da
adolescência. Nas rodas de amigos, na fazenda, em reuniões de família, na pista
de corrida – as brincadeiras levavam pimenta. O tempero ia ficando cada vez
mais picante. Um abraço displicente aqui, um brincar faminto de lábios ali. E
dali para a loucura, sabíamos, seriam dois passos.
Mas também sabíamos. Havíamos perdido o tempo da escolha. Nossos filhos eram
como irmãos. Nossos companheiros não eram apenas como. Desistimos do desejo.
Sobreviveu o amor. Porque amor não vivido se inscreve no eterno.
Lourença Lou