sexta-feira, 28 de setembro de 2018

LI


Estávamos entrando na década de 90, vivendo a difícil redemocratização do país e o realinhamento da Educação no construtivismo de Piaget e na linha libertária de Paulo Freire. Era um privilégio ser professora de uma escola que resolveu bater de frente com o conservadorismo e apostar na inovação. Mas eu não era professora. Era a faz-tudo da instituição – por dentro, o cargo de diretora não tinha nenhum glamour. Trabalhava como uma moura. O pior era acordar assustada e atravessar a cidade para atender ao chamado da empresa de segurança, quase todas as noites. Eram sempre gatos, gatos, gatos. Uma noite, encontramos um outro tipo de gato. Enormes olhos escuros, boca carnuda, quarenta e poucos anos e ladrão. Quase desmaiei, como uma dama do século dezenove, ao reconhecê-lo. Era o meu gato de estimação. Tranquilamente ele explicou: cansei de te ver sair de madrugada. Resolvi ser causa ao invés de consequência.



Lourença Lou

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...