quarta-feira, 3 de outubro de 2018

LXIV


Acabei a palestra e relaxei na cadeira. Todos saíam de forma organizada e dolorosamente silenciosa. Falar sobre o uso de drogas e suas consequências não era fácil para mim. Ouvir, não era fácil para eles, os pais. Depois que todos saíram comecei a juntar minhas coisas. Ela chegou à minha frente. Magra, uma tristeza cobrindo todo seu corpo. Trazia uma foto de uma menina de uns dezesseis anos. Eu não tinha tempo para ouvir mais uma história - pensei. Em seguida, me lembrei do meu filho. Olhei-a. Ela estava chorando, mansamente. Dei-lhe uma cadeira e me preparei para ouvi-la. - Eu a matei - ela disse. Olhei-a, sem saber o quê dizer. - Ela colocou a faca em meu pescoço. Queria dinheiro ou algo para vender. Eu não tinha mais nada. Não raciocinei. Empurrei-a. Não queria matá-la. Ela caiu dentro da cisterna. - Quando foi isso? perguntei. - Agora mesmo. Não tinha mais motivos pra vir aqui, mas queria saber onde errei. - Você não tem que se sentir culpada pelo vício dela. Entendeu isso? Ela se levantou. Com as duas mãos sobre a mesa, me disse: - Agora não importa mais. Vou à delegacia. Eles precisam buscar o corpo. Seus olhos tinham uma dor que eu nunca vira. Deu-me as costas. Nunca mais soube dela.




Lourença Lou

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...