Eu a vi assim que
entrei. Olhar perdido no fundo do salão como se nada mais existisse além da
incredulidade que a paralisava. Perder mãe é um desvio de rota quase fatal. É
injusto que num coração pequeno tenha que caber tanta falta. A dor dela doía em
mim, mas eu sabia que ela seguiria seu caminho. Porque viver, viver seria
imperiosamente necessário. E aprenderia, como eu, que amor não é dado de graça.
Só amor de mãe.
Lourença Lou
Paulo Bentancur COISAS DE LOU é uma
série muito séria, no sentido de um projeto profundo, de enorme consistência,
tomado de vida, e vida intensíssima. Mesmo quando, neste episódio, haja a
imperdoável entrada em cena da não convidada morte. Ainda mais na situação com
que a narradora se depara: uma meninina que acaba de perder a mãe! A ótima
leitora Gratia Cynthia, em seu elogio ao
estilo de Lourença Lou, parece estar se referindo a este
trecho, por exemplo: "Perder mãe é um desvio de rota quase fatal. É
injusto que num coração pequeno tenha que caber tanta falta." Fosse eu
continuar a citar outros trechos tão eufônicos, repetia o texto inteiro. E são
apenas seis linhas! Fica para sempre, como uma sentença brutal, a constatação
de que durante a vida espera essa criança o duríssimo aprendizado: "amor
não é dado de graça. Só amor de mãe." Emoção inestancável na maior
síntese. Beijos, querida amiga, parceira Lou, carinho, admiração.