sexta-feira, 28 de setembro de 2018

XLVII


Achávamos que era amor. A vontade de um entrava na vontade do outro. Tanto que doía. E nos perdíamos. Sem saber onde nem quando nem por quê. Não buscávamos saber. Éramos dois lagos separados pelos ressentimentos. Entre um e outro escorriam palavras e olhares e ódios. Dia sim no outro também. E os filhos boiavam no turvo destas águas. Não percebíamos. Achávamos que era amor. Apesar do amante. Apesar da amante. Apesar do secreto de cada um. E jogávamos as soluções para o dia seguinte. Sem investimentos. Como se amanhãs fossem feitos de milagres. Nenhum dos dois cedia. Achávamos que não perdíamos. Os filhos perdiam. E se perdiam. Atavam e desatavam seus laços. E seguíamos assim. Cada um passageiro de si. E todos nos cobrindo de nós.


Paulo Bentancur "Cada um passageiro de si", frase que sintetiza um casamento falido. E não apenas entre marido e mulher, mas os filhos, fatalmente, envolvidos nesse arquipélago de ilhas desertas. De segredos envenenados entre os dois "amores". Amor? Nem pensar. Uma fatia dura da realidade na qual o afeto já se perdeu, e há muito. COISAS DE LOU é capítulo de uma série de pequenos mas contundentes ou belos quadros da "vida como ela é". Lembra inclusive Nelson Rodrigues. Entre tantos gêneros praticados (e bem realizados) por Lourença Lou, este é dos que mais gosto. Talvez o meu preferido! Beijos da mais incondicional admiração.

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...