O grito do telefone
entrou em mim estraçalhando minha pouca segurança. Que notícia boa chegaria às
23:45h? Fiquei paralisada permitindo que o som estridente inserisse em meu medo
situações inimagináveis. Estava sozinha em casa. Nenhuma outra mão além da
minha para levantar aquele fone. Nenhum abraço para me ajudar a enfrentar meus
dragões e suas línguas de fogo. Uma voz nervosa perguntou
por um nome. – Não é daqui – balbuciei a custo. Era engano. Não era da clínica
onde ele, meu filho, estava. Nem da polícia. Nem do hospital. Nem era nenhum
fantasma encomendado para me assombrar. Me joguei no sofá. Reconheci. Meus
fantasmas estavam dentro de mim. Um dia eu os mataria.
Lourença Lou
Paulo Bentancur Excelente miniconto
escrito num tom de sugestiva e penumbrosa atmosfera. Há uma mescla de
contundência e de enorme sugestão. Sim, o texto é autobiográfico, mas o
brilhante ritmo narrativo é tipicamente ficcional. Magnífico, queridaLourença Lou... Beijos e
boa-noite.