sexta-feira, 5 de outubro de 2018

LXIX


Elas chegaram e se sentaram na poltrona ao lado da minha, na sala de espera do consultório. A mais alta, de enormes e desnecessários óculos escuros, começou a revirar a bolsa meio desesperada. De repente, um celular apareceu em sua mão:
- Que sentimento ruim! Podia jurar que meu iPhone havia sumido e hoje é dia de faxina lá em casa. Minha bolsa ficou um bom tempo aberta no sofá.
- Mas a faxineira não é de confiança?
- É. Mas nunca se sabe, este pessoal... Ainda bem que foi só um sentimento ruim.
Olhei para elas e o sentimento ruim passou a ser meu. Tinha acabado de ver e ouvir uma atitude preconceituosa e me senti cansada e sem forças demais para reagir. O máximo que consegui foi me sentir indignada e ter pena da faxineira que deveria morar na periferia, atravessar a cidade todos os dias num coletivo lotado e além de pobre certamente deveria também ser negra. O suspeito ideal para qualquer crime imaginado por determinadas cabecinhas preconceituosas que são encontradas em qualquer dia, em qualquer esquina. Infelizmente.

Lourença Lou

L

Não gostava de garotos. Andava sobre saltos e achava que homens maduros eram os grandes parceiros. Aquele menino subverteu meus conceitos ...